[PRÉ-VENDA] O funcionamento do errado: Clínica psicanalítica lacaniana - Antonio Beneti (Envios a partir de 30/08)
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No nosso mundo contemporâneo, os analistas são os únicos que escutam e, portanto, devem saber transmitir a particularidade, o “menos-um” de cada cura, o caso-a-caso. Torna-se, então, necessário pedir, trabalhar, lutar por uma rede assistencial sustentada pelo matema da clínica (U-1). Consideramos ainda que, no mundo de hoje, só resta, diante da queda dos ideais, o debate democrático, do qual o analista deve participar ativamente, sempre a partir de sua ética.
Trata-se de demonstrar que a boa lei, a boa regra, será sempre furada pelo Real, pela falta no campo do Outro. Houve uma época em que o analista, como “máquina de desidentificação”, exceção em relação a todos os outros cidadãos, construiu um ideal de marginalização social da psicanálise — um ideal de analista concebido como o marginal, o inútil, que não serve para nada —, somente para uma posição de denúncia de todos os que servem para algo. O analista vazio, desprovido das identificações, apagado, morto. Quase como um toxicômano da psicanálise, diríamos nós, a se sustentar num gozo cínico, ou numa posição cínica, a exemplo do toxicômano em sua relação de oposição ao discurso capitalista. O analista contemporâneo deve intervir nos sintomas de seu tempo.
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A trajetória de Antonio Beneti pela psicanálise se confunde com a própria história do movimento lacaniano no Brasil. Tudo começa com a psiquiatria, passa por uma análise lacaniana na França, pela criação do Simpósio do Campo Freudiano, conectado ao Campo Freudiano, e do CMT (Centro Mineiro de Toxicomania), pela Iniciativa Escola, para culminar na constituição da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação Mundial de Psicanálise, para a qual ele contribuiu de maneira decidida e fundamental. Nas duas últimas décadas, Beneti vem trabalhando como analista e comprometido institucionalmente na formação de analistas, em conferências e seminários que, como recomendava Lacan, alcançam “em seu horizonte a subjetividade de sua época”. E escutando, sempre. Mas – e isso é próprio da destituição à qual Beneti chegou − com um ouvido só.
O que bater na minha porta demandando, eu começo a escutar. Tem um texto de Theodor Reik, discípulo de Freud, sobre o terceiro ouvido. Lacan brinca: “para que ter três ouvidos? A gente escuta com um só”. E é curioso isso porque eu me sento ali atrás do divã e escuto com o esquerdo. Escuto. Com o direito, eu ouço. É curioso isso. Eu não escuto com os dois, vamos dizer assim − escutar, no sentido da escuta analítica −; é como se o esquerdo fosse mais afinado, não sei dizer. Se eu me sentar aqui, com o ouvido direito, eu não escuto do jeito que eu escuto com o esquerdo. É louco isso.
Louco ou não – e quem não é? −, há uma produção escrita por Beneti que pode continuar contribuindo psicanaliticamente para a formação dos mais jovens, principalmente no campo da psiquiatria e da Saúde Mental. Essa foi nossa motivação para envolvê-lo no projeto de um livro. Beneti franqueou nosso acesso a uma grande quantidade de textos impressos e manuscritos, esquemas de aulas e seminários, publicações nacionais e internacionais, que nos permitiram – não sem dificuldade – a montagem deste livro. Para orientar a curadoria, fizemos entrevistas com ele, cuja escuta permitiu definir o título e decidir por esta divisão em 3 capítulos − Coisas do contemporâneo, Coisas de psicanalistas e Coisas da psicose −, fazendo uso do conceito latino Res, que significa Coisa, para juntar heterogeneidades.
O leitor encontrará neste livro a possibilidade de um novo laço. O autor, com seu ouvido singular, não se posiciona como mestre, por manter com o saber uma relação de separação – que sustenta o saber como tal −, e fala “com as paredes” – como Lacan na capela de Sainte-Anne, dirigindo-se aos psiquiatras em formação −, já que a relação entre o eu e o outro é intermediada pelo muro da linguagem, e que a autoria de um analista não reside na primeira pessoa, sozinho que está em sua fala. As paredes são feitas para circundar um vazio, algo do Real se circunscreve, a voz ressoa e algo retorna pela interpretação sempre particular a cada um. Beneti nos presenteia com a solidão de sua escrita. Compete ao leitor, implicado pela autoria e atravessado pelas reverberações de uma transmissão que faz corte, constituir um laço pelo trabalho em torno do saber textual que se produza nesse encontro.
Boa leitura!
Musso Greco