Por Roberto Esposito
“Comunidade”, como qualquer outra palavra, é tão mais audível segundo as condições em que ressoa. Assim, quando, deixando-nos em alguma medida de lado, participamos coletivamente das festas e das colheitas; ou quando, transidos de incerteza, nos recolhemos entre as paliçadas e ao redor das fogueiras; ou ainda quando, feito lemingues, levamos uma corrida sem freio e somos por ela levados , os tons são ora mais sóbrios, ora mais sombrios, ora mais vibrantes e envolventes. Juntos, construímos, cantamos, louvamos, defendemos – mas também esquecemos, desperdiçamos, exaurimos, dizimamos. Em uníssono, aplaudimos assim como linchamos, sem rosto, anonimamente. Aqui funestos, ali exultantes. Em todo caso, a palavra que se busca entender não é aquela que já está escrita, lavrada de antemão. À cata de um vocabulário, esperam ainda os resíduos, os não-indivíduos, por uma expressão mais viva daquilo que, em potencial, se encontra em “comum”, em “comunidade”.
Em nossa hodierna “aldeia global” – em que os mais acerbos nacionalismos acusam o medo da diluição identitária, e o movimento, não menos premente, de aproximação ao diverso indica o caminho que nos pouparia do conflito generalizado –, mais do que nunca, se impõe um pensamento crítico sobre os sentidos latentes da comunidade.
