Instruções para montar - mapas, cidades e quebra-cabeças / Intrucciones para armar - mapas, ciudades y rompecabezas

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Escritora mineira lança livro sobre Buenos Aires Flávia Péret aborda temas do cotidiano ao olhar para a cidade sem o viés turístico e relembra as cicatrizes da ditadura militar. Livro é lançado em edição bilíngüe com tradução de Paloma Vidal.

Instruções para montar mapas, cidades e quebra-cabeças (Guayabo edições) de Flávia Péret, é um livro de contos, mas que também pode ser lido com um pequeno romance de viagens ou uma coletânea de narrativas – que transitam entre vários gêneros textuais – sobre a cidade de Buenos Aires (Argentina). Um texto que brinca com a ideia contida num trecho de Cidades invisíveis, do italiano Ítalo Calvino, de que as cidades nos desafiam a decifrá-las, entendê-las, mas que, ao mesmo tempo, nos trazem mais perguntas do que respostas.
Nessa experiência de montar e criar uma cidade afetiva e subjetiva, a errância, o desvio e a deambulação são elementos constantes nas narrativas e a palavra “instruções” contida no título da obra é apenas uma constatação irônica da impossibilidade de se compreender em sua totalidade e objetividade algo tão múltiplo, ruidoso, vivo e complexo, como uma cidade, com seus habitantes e suas inúmeras histórias (oficial e contra-oficial).

A escritora mineira Flávia Péret viveu em Buenos Aires em 2005. A mudança foi motivada por uma crise profissional. Uma jornalista desencantada com o jornalismo viaja para o país vizinho para estudar cinema e literatura. Matricula-se no curso de Cinema Documental da Universidade Livre Madres da Plaza de Mayo (criado pela organização de mesmo nome) e em algumas disciplinas do curso de Letras e Antropologia da Universidade de Buenos Aires. Ali, seu interesse pela literatura como objeto de estudo e de afeto se intensifica.
A vivência na cidade é atravessada por uma série de encontros que a deslocam dos cenários tradicionais (e repetitivos) que levam muitos brasileiros à Buenos Aires. A intensa experiência de conviver com os portenhos de todas as classes sociais, sobretudo da classe trabalhadora, e transitar por paisagens que não costumam estar nos guias turísticos fazem com que o olhar da escritora se volte para os resíduos e para as bordas invisibilizadas dessa importante cidade
da América do Sul, um olhar pouco ativado ou percebido pelos turistas. Neste sentido, Instruções para montar mapas, cidades e quebra-cabeças é também um livro contra o turismo tal qual praticado e evocado pelo capitalismo contemporâneo. O turismo como prática que se resume, nas palavras do filósofo Félix Guattari, “quase sempre a uma viagem sem sair do lugar, no seio das mesmas redundâncias de imagens e comportamentos”. Instruções para montar mapas, cidades e quebra-cabeças não aborda os famosos cartões postais portenhos, muito menos o imaginário criado em torno da cidade: o tango, o vinho, a sofisticação. Ao contrário, a narrativa convida leitores – também turistas em algum momento da vida – a fugir desses cities tours oficiais e criar uma cidade menos pré-configurada, no entanto, mais aberta à diferença, ao encontro e ao inesperado.
O livro é um relato autobiográfico e ficcional que reflete sobre os motivos pelos quais as pessoas viajam, porque se deslocam, mudam de vida e de paisagem. A narradora está o tempo todo atenta e curiosa pelas histórias das pessoas e do país. A relação com a literatura – já que a narradora é uma estudante de literatura que deseja se tornar escritora – se dá pelas inúmeras referências diretas e indiretas que aparecem nos textos, a começar pelo título do livro: Instruções para montar mapas, cidades e quebra-cabeças, uma explícita homenagem ao escritor argentino Julio Cortázar e seus contos em forma de “instruções”. Esse jogo com a literatura, a arte e a cultura argentinas seguem em alguns outros contos cujos títulos são reapropriações de títulos de obras de escritores locais, como Rodolfo Walsh, Ricardo Piglia e Jorge Luis Borges.
O livro também faz uma reflexão sobre como os argentinos lidam com a questão da memória coletiva acerca dos crimes cometidos na última ditadura militar (1976–1983), atuando para que esses crimes sejam investigados, punidos e, principalmente, jamais esquecidos pela população. A publicação do livro, quecontempla outras ações como a realização de 10 intervenções urbanas em muros e paredes da região leste de Belo Horizonte com as frases: as pessoas têm memória e as pessoas não têm memória, foi contemplada pelo edital da Lei Municipal de Incentivo de Belo Horizonte (LMIC) da Fundação Municipal de Cultura. Da tiragem de 1000 exemplares, parte será distribuída gratuitamente. O livro será bilíngue para que possa circular também nos países da América
Latina e não apenas no Brasil. A tradução foi feita pela escritora Paloma Vidal, autora do posfácio. Paloma Vidal nasceu em Buenos Aires em 1976, mas
mudou-se para o Brasil aos dois anos de idade, com os pais, auto-exilados da ditadura que estava em curso na Argentina. Paloma é uma escritora atravessada não só pelo bilinguismo, mas pelo trabalho de narrar em seus livros a experiência de viver entre dois países, culturas, línguas e memórias. Além da edição bilíngue, foi produzido, exclusivamente na versão português, um audiobook como forma de democratizar o acesso às pessoas cegas ou com baixa visão. O audiobook, bem como todas as informações complementares do projeto, estarão disponíveis no site guayabo.com.br/mapas, a partir de 15 de julho.

Sobre a autora:
Flávia Péret é escritora, pesquisadora e professora. Mestre em Teoria da Literatura pela UFMG, atualmente realiza doutorado na Faculdade de Educação da UFMG. Em 2018, recebeu o prêmio Jean-Jacques Rousseau, pela Akademie Schloss Solitude (Alemanha) pelo seu trabalho com a literatura. Publicou os livros: Imprensa Gay no Brasil (2011), 10 Poemas de Amor e de Susto (2013), Outra Noite (2014), Novelinha (2016), Uma Mulher (2017 e 2018), Os Patos (2018) e Mulher-Bomba (2019).