Este livro, que nasceu de um estudo do modo de narração de "O espelho", foi pouco a pouco se encorpando, ganhando força ao longo dos anos, até se transformar numa análise abrangente e penetrante das Primeiras estórias, tudo para se reencontrar de novo no mais fundo com a interrogação e o desconcerto das imagens especulares de que partiu. Em seu percurso minucioso e tenaz em busca do sentido, a autora não apenas mergulha na desvendagem dos contos como estruturas relativamente autônomas, mas procura compreender também os princípios de organização que dão coerência e unidade à coletânea como um todo tensionado entre os cimos e os abismos de uma rara invenção. É que aceitou o desafio dos tortuosos avatares que são essas narrativas, feitas de mito e história, das contradições do real espelhadas nas formas da ficção. Sem se deter diante de dificuldade alguma, Ana Paula Pacheco chega aos dilemas da representação literária que constituem outras tantas perplexidades para quem busca, não sem antes ter nos deixado a mais arguta interpretação das estórias mais difíceis de Guimarães Rosa.
