O propósito deste livro é contemplar o deus Dioniso para estabelecer relações com o teatro, com o ator e com a comunicação na Hélade. Não é, absolutamente, nosso objetivo descrever Dioniso, já sobejamente apresentado durante toda a história da humanidade. Desejamos, sim, elegê-lo para compreender, ampliar e conhecer melhor os caminhos deste senhor das ribaltas. Não se pode falar de Dioniso sem a sua contrafacção, Apolo. Ambos constroem juntos o ator ideal - o ator jogador. E Dioniso estabelece um nível especial de comunicação, oposto à comunicação que propõe Apolo. Portanto, vislumbramos contemplar três recantos neste tema: Dioniso, o deus; o teatro e o ator, uma vez terem, ambos, Dioniso como padroeiro; e a comunicação, peculiar na Hélade, porque aristocratas atenienses recusavam-se a qualquer vínculo com este deus orgiástico. Partimos de uma análise de Dioniso - deus que chega e que subitamente desaparece, o deus misterioso ''escondido nas sombras da videira''. Ele representa uma virtualidade na mitologia grega: o sagrado em Dioniso não é absoluto, contemplativo, mas itinerante, peregrino. Por isso é um deus de faces caleidoscópicas, ostentador de máscaras que se metamorfoseiam de acordo com as circunstâncias. Desde um Dioniso da fertilidade, do vinho, da alegria, dos azuis do
