.] este novo livro de Silvia Ons se torna essencial, [...] podemos seguir alguns fios que são tecidos com a agilidade de uma autora que sabe mexer suas agulhas até chegar a um tecido complexo, sutil e simples ao mesmo tempo. Discurso analítico, discurso filosófico e discurso de gênero se entrelaçam nele em uma trama que margeia o buraco do desejo do analista, cuja voz feminina é ouvida ao longo do texto. Com efeito, é uma referência permanente à sua prática – que não poupa intervenções, efeitos e questões ligadas à incidência do tempo nela – que sustenta um tecido que é também um verdadeiro exercício de desconstrução, no qual a autora é fiel a sua própria abordagem da psicanálise como um grande desconstrutor. Desconstrução do discurso de gênero, cujas afirmações questiona de forma aguda, demonstrando em várias passagens tanto suas contradições internas quanto sua falta de fundamentação em certas críticas dirigidas à psicanálise, movimento que não anula o reconhecimento de seu grande valor no campo dos direitos conquistados . [...] Desconstrução do discurso filosófico, seguindo o caminho antifilosófico aberto por Jacques Lacan, onde realiza uma leitura rigorosa e incisiva de autores como Santo Agostinho, Nietzsche ou Spinoza, purificando nele questões centrais na investigação sobre o liberdade e seus limites, transvaloração e suas consequências, ou a perspectiva de um real sem falhas. […] Enfim, a desconstrução de tudo o que pode se tornar dogma no discurso analítico, porém, aderindo a uma ortodoxia tão freudiana quanto lacaniana, sem cair no caminho fácil da queerização politicamente correta, que consistiria em uma nova forma de autocensura . , como o autor justamente aponta. […] Há um vai e vem neste livro, que convida o leitor a deixar-se levar por um ritmo que acompanha o movimento incessante das agulhas com que Silvia Ons nos leva de um fio a outro com a habilidade de um artesã que sabe dar nós com os buracos que habitam o parlêtre contemporâneo, numa experiênc
