Os recentes aperfeiçoamentos dos métodos e do âmbito de atuação da história oral vêm produzindo resultados significativos em diferentes campos das ciências e das manifestações centradas no homem, nas suas trajetórias e na sua interação enquanto ser vivo e agente de suas vivências, isto é, naquelas que são marcadas pela historicidade e em que a memória consigna a sua presença. Neste sentido, As Nazi-Tatuagens: Inscrições ou Injúrias no Corpo Humano?, de Célia Maria Antonacci Ramos, traz uma amostragem e uma síntese exemplar do que esta forma de incursionar o passado pode proporcionar como relato de experiências, análise de seus fatores e ensinamento de suas lições. Pelos depoimentos dos sobreviventes dos horrores nazistas nos campos de concentração e extermínio, com a voz e a angústia das lembranças traumáticas tatuadas ao vivo no corpo das vítimas, este estudo introduz o seu leitor quase corporalmente ao inferno de um racismo que se tornou a expressão modelar, não só das relações desumanas entre seres humanos, como a cristalização mais brutal da capacidade que a patologia cultural dos preconceitos e os fundamentalismos ideológicos e políticos têm para ferretear, com os seus exclusivismos grupais, étnicos, nacionais e religiosos, a marca de Caim do ódio ao seu semelhante.
