As cartas de Nietzsche são índices de acontecimento de pensamento. Nelas, de diversas formas, a vida se expressa polissemicamente. Por isso, a filosofia rompe as formas logocêntricas de autoexposição e celebra possibilidades irredutíveis à ordem das razões. Trata-se sobretudo de uma possibilidade de fazer filosófico onde a intensidade dos fluxos de sentido para si e para o mundo fala mais alto que a métrica das narrativas lógicas. Por isso, o caráter bio-gráfico do espistolário nietzschiano não se refere somente ao Sr. Nietzsche, mas a uma forma outra da vida (biós) escrever (graphein) os signos e os rastros de si mesma. Para quem quer imiscuir-se nos traços da vida filosófica nietzschiana, é imprescindível conhecer e se contaminar com seu epistolário. Daí a importância deste livro, "Nietzsche e as cartas", que mostra a riqueza de Nietzsche no caleidoscópio de suas correspondências. Suas cartas se endereçam agora a cada um de nós e nos interpela a fazer do diálogo vivo com Nietzsche um caminho criativo de pensamento.
