A voz no divã

Tratando de defender sua tese segundo a qual a voz é o objeto primordial do sujeito, Jean-Michel Vives aponta a necessidade, para a formação do sujeito, da voz do Outro, mas passa, logo a seguir, a destacar a importância de que o sujeito forme um ponto surdo que o capacitará a se fechar a essa voz sem limites e, desde então, fazer-se voz. Com a música sacra, Vives demonstra, usando a figura dos castrati, o quanto uma voz pode ser signo do fora-do-sexo, daquilo que alcança o além da imposição da lei. E o quanto isso, para o ouvinte, pode ser extremamente prazeroso. Em um segundo momento, passa à análise da ópera, destrinchando várias obras e o papel que a diva ocupa em cada uma delas. O que há de tão encantador nessa voz que alcança notas sublimes? Ao mesmo tempo, por que a falha da diva é tão odiosa para os ouvintes? Nesse ponto, analisa também o grito das sereias, retomando o grito enquanto sedutor e mortífero. Ao tratar da música eletrônica, por sua vez, o autor constrói a teoria na qual o DJ ocupa o lugar do pai da horda mas, dessa vez, disposto a compartilhar algo de seu gozo. É nisso que se baseia a rave: na possibilidade do gozo compartilhado, no qual a lei é suspensa. Jean-Michel Vives dedica a última parte do livro à importância da voz como principal vetor de trabalho do psicanalista, enfatiza o caráter único e indizível do timbre de voz de cada sujeito e como esse pode apropriar-se dele pelo processo analítico.